Recomeço após gravidez precoce e perda do filho

Rita, de Inhambane, sempre sonhou ser polícia e conhecer novos lugares. Aos 16 anos tornou-se mãe, perdeu o seu filho e teve de interromper os estudos. A perda do seu filho trouxe desafios enormes, mas também a fortaleceu. Hoje, Rita é uma Campeã de Mudança na sua comunidade, inspirando outras raparigas a superarem adversidades e a lutarem pelos seus sonhos.

Rita conta a sua história

“Arrependo-me de ter perdido dois anos por causa da gravidez , pois podia ter concluído os estudos”

Rita, 22 anos
Rita, 22 anos, sobrevivente de gravidez precoce e Campeã da Mudança
Rita Contando a sua história de vida© Plan International.

“Chamo-me Rita, tenho actualmente 22 anos, já concluí o ensino secundário e estou actualmente a frequentar o curso de empreendedorismo.

“Fiquei grávida aos 16 anos e a gravidez foi muito difícil, assim como o pós-parto. Fiquei muito doente e o bebé acabou por morrer aos quatro meses.

“Quando isso aconteceu, voltei para casa dos meus pais. Já tinha perdido o ano lectivo, mas quis regressar às aulas.

“No entanto, o meu pai receava que, se eu regressasse à escola, voltaria a engravidar, por isso, não deixou que eu regressasse durante dois anos.

“Arrependo-me de ter perdido dois anos por causa da gravidez precoce, pois podia ter concluído os estudos e iniciado a minha formação universitária ou ter começado a trabalhar”.

“Com os desafios que enfrentei, aprendi muito e tive uma segunda oportunidade para recomeçar a vida: retomar os estudos, sonhar novamente e, acima de tudo, continuar a viver.

“Com o apoio da minha mãe e dos dinamizadores do projeto Mandziku, convencemos o meu pai a deixar-me regressar à escola.

“Consegui concluir o ensino secundário e agora faço parte do grupo Campeões da Mudança.

“Estou a frequentar um curso de empreendedorismo promovido pela Plan International, através do projeto Mandziku, em Inhambane.

“Este curso ajuda-me a tornar-me uma agente de mudança, a partilhar a minha experiência com outras raparigas da comunidade e a educá-las sobre os seus direitos de saúde sexual e reprodutiva e métodos contraceptivos.

“Aconselho as meninas mais novas a não iniciarem o namoro cedo e a adiarem as relações sexuais até atingirem a maioridade.

“Protejam-se contra doenças e gravidezes indesejadas, recorrendo a métodos contraceptivos. A gravidez na adolescência atrasa os planos de vida e pode  causar complicações de saúde graves durante o parto, já que o vosso corpo  não estar preparado” disse.

Gravidez precoce em Moçambique

Moçambique está entre os países com a maior taxa de gravidezes precoces do mundo.

De acordo com o relatorio da Human Rights Watch (HRW), em 2023, 180 em cada 1000 raparigas e mulheres jovens com idades entre os 15 e os 19 anos deram à luz, um número muito acima da média regional, que se situa nos 94 nascimentos por 1000 raparigas.

A vulnerabilidade e a pobreza são alguns dos factores por trás desta situação.

Factores e consequências

A gravidez precoce em Moçambique continua a ser um dos principais desafios de saúde pública e desenvolvimento social.

Dados do Centro de Pesquisa em População e Saúde, (CESPA) Indicam que, apesar do aumento da escolaridade, a taxa de adolescentes que iniciam a vida sexual activa permanece elevada, devido ao início precoce da actividade sexual, aos casamentos infantis e à utilização reduzida de métodos contraceptivos.

A gravidez na adolescência está associada a complicações durante o parto, abandono escolar e limitações das oportunidades económicas para as jovens.

A idade média da primeira relação sexual em Moçambique é de 16,6 anos e apenas 12% das adolescentes sexualmente activas com idades entre os 15 e os 19 anos usam métodos contraceptivos modernos.

Isto contribui para o elevado número de gravidezes não planeadas, segundo o inquérito Demográfico de Saúde 2022-2023.

A resposta da Plan International

Em Moçambique, a Plan International tem adotado uma abordagem integrada para enfrentar este desafio.

Através de programas focados na educação inclusiva, na saúde sexual e reprodutiva, na proteção infantil e no empoderamento económico, a organização actua em províncias como Inhambane, com o objetivo de proteger as raparigas das uniões forçadas e da gravidez precoce.

A Plan International está a implementar, na província de Inhambane, o projeto Mankziku, que promove a criação de grupos de adolescentes e jovens nas escolas e comunidades para debater e prevenir as uniões prematuras.

Esses grupos, conhecidos como Campeões da Mudança, têm um papel fundamental na sensibilização e mobilização das suas comunidades.

O projeto teve início em 2021 e decorre até ao final do presente ano, tendo já beneficiado mais de 181.000 pessoas, das quais 44.801 são beneficiários diretos, com impactos significativos na educação e na saúde sexual e reprodutiva dos beneficiários.

Categorias: Capacitação dos jovens, Competências e trabalho, Saúde sexual e reprodutiva e direitos conexos Etiquetas: Gravidez na adolescência, Serviços de saúde sexual e reprodutiva

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