Da Escola à Maternidade: Desafios da Gravidez Precoce
Desafios da Gravidez Precoce
Quando Verónica se tornou mãe aos 15 anos, enquanto frequentava a 10ª classe, a sua vida mudou completamente. Hoje, apesar dos desafios que enfrentou, ela é Campeã de Mudança na sua comunidade, onde defende os direitos das raparigas à saúde sexual e reprodutiva e inspira outras jovens a nunca desistirem dos seus sonhos.
A Verónica partilha a sua experiência nas suas próprias palavras:
“Não foi fácil conciliar a maternidade com os estudos, mas com muito esforço consegui terminar o ensino médio”
Verónica
“Engravidei aos 15 anos, num namoro que já durava um ano, com um jovem de 20 anos. No início, ele aceitou a gravidez e, como vivia na África do Sul e só vinha a Moçambique de vez em quando, fui viver com os seus pais.

“Acreditava que teria uma vida estável ao lado dele pois ele já trabalhava, por isso costumo aconselhar às meninas que não se deixem enganar pelas aparências. O dinheiro pode ser temporário, mas os vossos anos de vida não voltam atrás.
“Pouco tempo depois, ele recusou-se a assumir a gravidez. Quando chegou o momento do parto, tudo correu bem, mas logo depois comecei a sangrar durante um mês sem parar. Estava fragilizada, em casa com o bebé nos braços, enquanto via as minhas colegas seguirem para a escola. Sentia-me perdida e sem perspetivas do futuro.
“Foi nesse momento difícil que conheci uma jovem mentora mobilizadora do projeto Mandziku. Ela falava sobre uniões prematuras e convidou-me para uma palestra sobre Direitos de Saúde Sexual e Reprodutiva.
“Lá percebi que outras meninas tinham acesso à informações importantes e estavam mais preparadas para decidir sobre a sua vida. Essa experiência abriu-me os olhos, pois, percebi que eu podia recomeçar. Continuei a participar nas sessões, até que tomei coragem para regressar à casa dos meus pais e regressei à escola quando o meu filho tinha um ano.
“Através do projeto Mandziku, participei numa formação em jornalismo, que ainda pretendo continuar quando estiver financeiramente mais estável. Mais tarde, fiz também uma formação em cabeleireiro e, com o apoio da minha mãe, consegui abrir o meu próprio salão de beleza, fruto da parceria com uma outra mulher.
“Eu e o pai do meu filho perdemos contacto e nunca mais nos vimos. Hoje, o meu filho já tem 4 anos. Fiquei três anos sem estudar, mas decidi voltar à escola. Não foi fácil conciliar a maternidade com os estudos, mas com muito esforço consegui terminar o ensino médio.
“Hoje consigo sustentar-me sozinha e garantir todas as necessidades do meu filho, sem depender de ninguém. O meu sonho é expandir o salão, crescer ainda mais e criar empregos para outras pessoas.”
Impactos da gravidez precoce

De acordo com o Índice Demográfico de Saúde 2022-23, em Inhambane, 18% das adolescentes entre 15 e 19 anos já enfrentaram uma gravidez precoce. Embora este valor esteja abaixo da média nacional, que é de 22%, continua a representar um grande desafio para a saúde pública e para a protecção infantil. A situação está associada ao baixo acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva, aos casamentos infantis e às persistentes desigualdades de género.
Apesar de ligeiras melhorias nas taxas percentuais entre 1997 e 2011, o crescimento populacional fez com que o número absoluto de adolescentes grávidas aumentasse.
A educação sexual, o empoderamento das raparigas e o acesso a métodos contraceptivos são apontados como estratégias fundamentais para combater este fenómeno.
A gravidez precoce em Moçambique representa uma das mais graves ameaças à proteção infantil e ao desenvolvimento das raparigas adolescentes. A pobreza, normas sociais prejudiciais, desigualdade de género e acesso limitado à educação e saúde sexual e reprodutiva contribuem para que milhares de adolescentes enfrentem a maternidade antes dos 18 anos, segundo o Relatório do UNICEF.
Cerca de 439.453 mulheres entre 20 e 24 anos tiveram o primeiro filho antes dos 18 anos, sendo que 85.257 engravidaram antes dos 15 anos, no país, refletindo os altos níveis de pobreza e baixa escolaridade nessas regiões, revelam dados sobre gravidezes preccosses do CESPA.
Papel da Plan International
A gravidez precoce está fortemente associada ao casamento prematuro, embora em áreas urbanas e no sul do país esteja a crescer o número de casos fora do casamento. Em zonas rurais, 44,4% das raparigas engravidam antes dos 18 anos, comparado com 33,2% nas áreas urbanas.
Desde 2023 a Plan Internacional em Inhambane através do projecto Mandziku já formou 1314 membros de clubes de “Champions of Change” em matérias de sensibilizações nas escolas e comunidades na promoção de direitos sexuais reprodutivos e transformação de normas sociais de género, onde alcançaram 33.450 pessoas onde faz parte a Verónica.
Categorias: Capacitação dos jovens, Competências e trabalho, Saúde sexual e reprodutiva e direitos conexos